sábado, 2 de julho de 2011

XUXA 25 ANOS: O RENASCIMENTO DE UMA ESTRELA


Por WALLACE CARVALHO

RIO DE JANEIRO - Existe um chavão no meio do show business que diz que é mais fácil um artista alcançar o sucesso do que se permanecer no topo. Maria da Graça Xuxa Meneghel é uma das poucas celebridades brasileiras que pode afirmar que conseguiu resistir ao tempo, passou pela crise na indústria fonográfica, enfrentou o surgimento das novas tecnologias e a renovação de seu público. Ainda assim, no ano em que completa bodas de prata na TV Globo, a "Rainha dos Baixinhos" precisa consolidar o "TV Xuxa" como um programa voltado para toda a família.
Apesar de ser uma das estrelas de primeira grandeza do canal e ocupar uma posição de destaque na maior emissora do país, a loira não pode se dar ao luxo de se acomodar. Após passar os últimos 25 anos com a carreira focada no público infantil, Xuxa recebeu a missão de se transformar em uma apresentadora capaz de dialogar com todo tipo de público. A gaúcha que ajudou a "criar" uma geração de brasileiros, conta com o apoio de seus eternos súditos para permanecer no trono que ocupa há duas décadas e meia.
O jornalista José Armando Vanucci, crítico de TV e autor do blog "Parabólica", acredita que Xuxa vai conseguir dar a volta por cima mais uma vez. "Ela tem um público muito consolidado. Existe uma geração que cresceu ao lado dela que não a abandona. Estão sempre prontos para receber o que ela tem para oferecer", disse ao Famosidades.


No último dia 7 de junho, a “Rainha dos Baixinhos” que mora no coração de milhões de adultos gravou seu especial de 25 anos na emissora ao lado de amigos que fizeram parte de sua trajetória no canal, como Ivete Sangalo. Na atração, que é exibida neste sábado (2), a apresentadora fez o possível para esconder a tristeza que sintia naquele momento. Na ocasião, Xuxa chegou atrasada aos estúdios devido ao fato de sua mãe estar hospitalizada por conta do mal de Parkinson. Apesar do clima de comemoração, a loira passou o tempo todo preocupada com a mãe - que, felizmente, teve alta dois dias depois.
Engana-se quem pensa que esta é a primeira vez que a apresentadora passa por uma provação em sua carreira. A modelo considerada símbolo sexual nos anos 80 e que se transformou em ícone infantil, precisou se reinventar diversas vezes ao longo do tempo. Não só na TV, mas na música, no cinema e também na vida pessoal. Tais transformações jamais afetaram a popularidade e a credibilidade desse fenômeno criado pela televisão brasileira.
No início da década de 80, Xuxa era uma das modelos mais requisitadas do país quando foi convidada pela TV Manchete para comandar o “Clube da Criança”. No começo, a loira não gostou muito da ideia e recusou a proposta. Após muita negociação, a gaúcha acabou sendo convencida de que o projeto poderia ser benéfico para sua carreira. O desempenho à frente do “Clube da Criança” chamou a atenção da direção da TV Globo que apostou todas suas fichas na apresentadora para ocupar o horário da turma do Balão Mágico.


Convidada pelo vice-presidente da Rede Globo na época, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho – o Boni, a loira exigiu apenas que o programa levasse seu nome. Com um contrato assinado com a maior emissora do país, Xuxa teve que reposicionar sua carreira pela primeira vez. Ao lado de Marlene Mattos, construíu um novo jeito de se comunicar com as crianças.
De saia de couro e bota de cano alto, a loira comandou durante seis anos uma verdadeira avalanche de luzes e cores, que ao som de “Doce Mel”, hipnotizou uma geração de crianças. O “Xou da Xuxa”, exibido seis dias por semana, logo se tornou campeão de audiência e mudou a vida da apresentadora para sempre. O programa, que misturava brincadeiras, números musicais e números circenses, exibia desenhos animados e contava com a participação de centenas de crianças a cada gravação, transformou a gaúcha, nascida em Santa Rosa, em ídolo nacional e os telespectadores lhe coroaram “Rainha dos Baixinhos”, transformando Xuxa em vitrine para moda e costumes entre as crianças brasileiras.
Ainda assim, a apresentadora enfrentou diversas críticas de educadores infantis e intelectuais que acusavam o "Xou" de fazer com que as crianças acreditassem que pudesse existir um mundo de fantasia totalmente fora da realidade do nosso país. A psicóloga Maria Cláudia Tardin, professora da ESPM-RJ, afirmou ainda que a atração estimulava a sensualidade dos “baixinhos” antes da hora. “Criaram um estereótipo que sensualidade é andar com roupa 'X', pintar a cara, fazer poses provocantes etc. Tudo performance sexual para atrair o outro. Assim conseguiam vender vários produtos”, explicou.


Mesmo com a agenda lotada, Xuxa ainda arrumou tempo para comandar outras atrações na casa como o game “Bobeou Dançou”. O quadro do “Xou da Xuxa” fez tanto sucesso que acabou ganhando um horário na grade dominical da emissora em 1989. Voltado para o público adolescente, o programa ficou seis meses no ar. Este foi seu primeiro contato com um público de uma faixa etária mais avançada. No ano seguinte, a “Rainha dos Baxinhos” mostrou sua versatilidade como atriz no humorístico “Xuper Star".
Em 1992, a Globo trocou a edição de sábado do “Xou” por um programa musical voltado para o público adulto também comandado pela loira. O “Paradão da Xuxa” recebia diversas atrações musicais e o projeto foi cancelado porque a loira teve que diminuir seu ritmo de trabalho na casa para focar em sua carreira internacional. Tal decisão fez com que a apresentadora anunciasse o fim “Xou da Xuxa” e se despedisse das manhãs da emissora. “Foi uma decisão muito difícil para ela. Mas, hoje eu tenho certeza que o ‘Xou’ acabou no momento certo. Deixou aquele gostinho de quero mais em muita gente”, disse a ex-paquita Andréia Sorvetão, que fez parte da primeira geração de ajudantes da loira.
Em sua nova fase, a apresentadora estreou um programa que tinha como foco toda a família, e que levava seu nome. “Xuxa” (1993), exibido nas tardes de domingo, ficou apenas sete meses no ar. No ano seguinte, a loira voltou a comandar um programa infantil, mas desta vez semanalmente. O “Xuxa Park” estreou no dia 4 de junho de 1994. Com o tempo, a atração - que ficou no ar durante oito anos, foi se aproximando cada vez mais da fórmula do “Xou da Xuxa”.


Tudo mudou após o dia 11 de janeiro de 2001. A apresentadora gravava mais uma edição do “Xuxa Park” quando um incêndio causado por um curto-circuito interrompeu os trabalhos no estúdio F do Projac, ferindo 26 pessoas. O fogo destruiu todo o cenário do programa, gerando pânico entre as 300 pessoas que estavam no local. As vítimas sofreram queimaduras de primeiro, segundo e terceiro grau. Xuxa saiu ilesa, mas as marcas, daquele dia em diante, demoraram a se apagar e resultou, um ano depois, na separação de uma parceria que durou quase 20 anos entre ela e sua empresária Marlene Mattos.
Quem mais perdeu com a ruptura da dupla foram os adolescentes. Disposta a investir naquilo em que realmente acreditava, a estrela resolveu encerrar seu ciclo no “Planeta Xuxa”. O programa, inspirado no “Xuxa Hits” quadro do “Xuxa Park” - que chegou a ganhar horário próprio, entrou na grade da Globo em 1997. Com figurinos ousados, a produção pôde mostrar uma nova vertente do seu trabalho. Fazendo as vezes de entrevistadora, a loira fez sucesso ao arrancar confidências de seus convidados no sofá do quadro “Intimidade”. “A melhor fase dela como apresentadora foi no 'Planeta Xuxa". Ali, ela se tornou uma verdadeira comunicadora”, afirmou Vanucci.
Em 1998, quando a “Rainha” saiu de licença maternidade o “Planeta” continuou no ar sob o comando de amigos da gaúcha. Ivete Sangalo, ainda vocalista da Banda Eva, apresentou uma das edições. Amiga pessoal da estrela, a cantora não esquece do apoio que recebeu da loira desde que despontou à frente do grupo de axé. “Xuxa foi uma das pessoas que mais me deu força para seguir carreira solo e me ajudou muito durante todos esses anos. Eu lotei aquele Maracanã com a ajuda dela”, confessou ao Famosidades.


O último “Planeta” foi ao ar em julho de 2002. Três meses depois, a loira voltou ao ar com uma atração infantil e sendo dirigida por um outro diretor que não fosse Marlene Mattos, pela primeira vez em 20 anos. Sob o núcleo de Roberto Talma, entrava no ar o “Xuxa no Mundo da Imaginação”. Com um forte apelo didático, a produção foi bastante elogiada pela crítica e pelos mesmos educares infantis que tacaram pedra em seu início na Globo. Mas, o projeto foi cancelado dois anos depois por baixa audiência.
Para Marcelo Rolla, professor do curso de pós-graduação em Gestão do Entretenimento da ESPM-RJ, a emissora tem uma grade tão apertada que não pode se dar ao luxo de contar com um programa que não corresponde as expectativas do canal no quesito audiência, mas garante que o trabalho de Xuxa era de excelente qualidade. “Ela estava certa quando dizia que tinha que voltar a trabalhar com o público infantil. Não existe ninguém mais qualificado que ela para fazer isso. Ela tem perfil, aparência e tudo que se imagina para fazer algo de boa qualidade. O 'Xuxa Só Para Baixinhos' é o que se tem de melhor no mercado destinado a essa faixa”, analisou.
A apresentadora que ditou moda, criou uma nova fórmula de se comunicar com os "baixinhos" e ensinou a seus súditos que “tudo pode ser e que sonho sempre vem pra quem sonhar” se tornou um dos ícones da televisão brasileira. “Na fase mais moderna da TV, ela é o principal nome da programação infantil. Para o bem ou para o mal, já que muitos intelectuais criticaram o formato criado por ela, não tem como não citar o nome de Xuxa”, garante Vanucci. Mas, a última década não foi nada fácil para a apresentadora. Para seguir sua intuição, a loira precisou enfrentar a resistência dos diretores globais e passou por um verdadeiro teste em sua carreira.
Após duas décadas e meia na Globo, Xuxa não perdeu o brilho de pessoa iluminada que encanta multidões e hipnotiza milhares de crianças aonde quer que vá. Até hoje, não houve nada e nem ninguém que pudesse ameaçar seu reinado em prol dos seus eternos baixinhos. “A marca Xuxa está tão consolidada que é difícil algo afetá-la. O carinho que ela recebe do público é passado de pai para filho. Xuxa está caminhando para a terceira geração de crianças que abraçam seu trabalho”, afirma Rolla.



Fonte: MSN

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