A imagem infantil ficou para trás e, aos 45 anos, Xuxa experimenta a serenidade de uma mulher madura ao falar de confiança, amizade e amor
No ano em que completa bodas de prata como apresentadora de programas infantis, em uma das carreiras mais bem-sucedidas do showbiz brasileiro, Xuxa admite ter mudado bastante. Além de fama e fortuna, ela garante ter acumulado sabedoria com os tropeços da vida.
Nesta entrevista, ela reconhece ter dificuldade para se comunicar com as crianças de hoje e diz que não é mais escrava do trabalho - apesar de ainda se sentir refém da superexposição.
Aos 45 anos, aceita a maturidade sem forçar a barra com a natureza. Rejeita plásticas rejuvenescedoras, vive a maternidade com plenitude e descarta qualquer chance de casamento. Nem com o empresário Luciano Szafir, pai da filha Sasha e com quem é vista desde o fim do ano passado, nem com mais ninguém.
- Só faço o que me faz realmente feliz - disse.
No próximo ano, a Fundação Xuxa Meneghel completa 20 anos. Você se mostra cada vez mais engajada com projetos sociais que envolvem crianças. Por quê?
O fato de ter trabalhado tanto tempo com crianças faz com que eu me envolva diretamente nos problemas delas. Quando vou aceitar um trabalho, penso nos prós e contras. Quero ações politicamente corretas, entro onde posso somar. Me preocupo com as mensagens. Questiono o que as crianças vão ganhar com isso, aproveito minha imagem para ajudar as pessoas. Na minha fundação, tenho aprendido a pedir apoio. Ainda é difícil, mas tenho tentado ser mais cara-de-pau e pedir coisas para as crianças - coisa que no passado eu nunca faria. Eu era muito imatura nisso. Hoje tiro muito mais proveito. Ainda me sinto muito em dívida. Muitas vezes, coloco a cabeça no travesseiro e digo: "Puxa, eu podia ter feito muito mais, como eu tenho dívidas com as crianças, como ainda tenho coisas a fazer."
A preocupação com o meio ambiente sempre foi tema recorrente em sua carreira, inclusive no trabalho de sua fundação. Como você tenta mesclar o tema em seu trabalho?
Hoje, meio ambiente é moda, as pessoas falam disso como algo obrigatório. Quando fiz o SuperXuxa contra o Baixo-Astral (em 1988), quando alertei sobre a morte dos botos-cor-de-rosa ou quando cantei Arco-íris, já tentava passar uma visão de que, se não cuidássemos do mundo, ia ficar mais difícil viver. É verdade que a informação chega de uma forma diferente para as crianças, hoje. Eu não poderia fazer o que fiz no período do Xou da Xuxa porque não iam receber da mesma forma. É uma pena que agora eu não consiga me comunicar da forma como fazia com aquela geração. Aprender a lidar com crianças não é aprender a falar com elas em qualquer tempo. Hoje, eu talvez não consiga falar da melhor forma. Mas eu tento. Tenho a música como um bom caminho para falar sobre a natureza, como instrumento para fazer a diferença.
Qual o legado que você deixou para a geração Xou da Xuxa?
Entre os ex-baixinhos que assistiam ao Xou da Xuxa, uma galera vem até mim e diz que não bebe nem fuma, que é geração saúde porque cresceu comigo. Ainda ouço o resultado. Faço esse trabalho em meus vídeos e filmes. É muito mais sutil, se comparado com a época dos programas diários. Também fiz a diferença na vida de muita gente quando ensinei a acreditar nos próprios sonhos.
Você já declarou que sua carreira internacional marca sua realização profissional. Naquele tempo, você chegou a ter de administrar, ao mesmo tempo, cinco programas diferentes. O que mudou na sua carreira?
Começa pelo fato de eu ser mãe. Hoje, eu tenho meus horários de trabalho e meu tempo para ficar com ela (a filha Sasha, 10 anos). Eu preciso disso, ela não precisa pedir. Não é uma exigência dela nem uma questão de culpa. Coloquei na minha cabeça que depois das 19h eu não vou mais trabalhar. Gosto de chegar cedo para jantarmos juntas, fazer os deveres de casa e dormir com ela. Antes, começava a trabalhar às 13h e voltava para casa às 3h ou às 4h. Viajava de 15 em 15 dias, e ficava dois meses na Argentina, nos Estados Unidos, na Espanha Não passava Natal em casa. Agora, nem pensar! Pergunto o que minha filha quer fazer nas férias, no fim de semana. Minha vida toda é pensada sobre a agenda dela.
Sua carreira transformou você em uma supercelebridade. O que o sucesso te impediu de conquistar?
Liberdade. Se tenho a chance de ir e vir para certos lugares onde a maioria não tem acesso, sou privada de ir em outros que todo mundo pode ir. Não posso me dar o luxo de parar em um posto de gasolina e descer para comprar um picolé. Eu faço, mas sempre causa um tumulto, uma confusão. Tudo se transforma em um evento. As pessoas começam a me abordar para tirar uma foto com celular, carros batem. Dependendo do lugar, o resultado pode ser grave. Se as pessoas resolverem entrar em uma loja porque sabem que estou lá dentro, pode ser arriscado para todos. Eu vou a um shopping, mas, logo quando chego, a segurança fecha a porta para evitar que mais pessoas entrem. É uma questão de segurança para todos, não uma exigência minha.
A Sasha está com 10 anos. Como você enxerga a maternidade, quais suas preocupações como mãe?
Minha filha é uma pré-adolescente, bem pré-adolescente. Já calça 37, 38, usa roupa de 14 anos, fala "tipo assim". Eu tinha meu bebê, depois tinha meu bebê e minha menininha, e hoje eu tenho meu bebê, minha menininha e minha amiga. Vou ganhando com ela à medida que o tempo passa. É uma companheira sem igual. Quando preciso me afastar por algum motivo, já começo a sentir saudade enquanto ainda estou com ela. Às vezes, tenho vontade de colocá-la dentro de novo, para curtir tudo de novo. É muito bom. Mãe vê sempre o filho como bebê. A minha mesmo me coloca no colo e diz: "Pobrezinho do meu bebezinho, trabalhando tanto". E eu digo: "Bebezinho? Eu tô com 50 anos!" (risos).
Já está pensando nos 50? Como você se cuida? Preocupa-se com os sinais da idade?
Ontem, a Sasha quis ver o nascimento dela e eu vi que hoje estou com o mesmo peso que eu estava quando ela nasceu. Engordei muito. Eu preciso ter a vaidade a mais que o normal, porque dependo da imagem do meu corpo e do meu rosto, mas não sou vaidosa a ponto de passar o dia olhando um espelho. Muitas pessoas se espantam porque consigo me maquiar sem espelho. Digo que já conheço tanto a minha cara que nem preciso me olhar (risos). Minhas preocupações são mais pela saúde. Sei que fiz tantas coisas que não devem ter sido legais para meu corpo. Fiz muitos exercícios errados, dormi pouco, fiz muitos shows Tenho medo de sentir o resultado de tudo isso. Na verdade, já sinto. Deveria operar o joelho, tenho duas hérnias (aponta a coluna). Sei que a resposta do corpo vem e é disso que quero cuidar.
Rugas não incomodam?
Vejo as pessoas muito preocupadas com o rosto, "estica aqui, estica ali". Eu realmente não quero fazer isso. Acho muito feio. As pessoas vão ter de me perdoar por chegar enrugada, mas não vou conseguir ser mais uma daquelas caras esticadas, todas parecidas, com a boca assim (faz um bico). Não vou seguir esse padrão de beleza, mesmo que venha a decepcionar muita gente. Não quero pintar o cabelo, fico toda feliz porque já tenho bastantes fios brancos aqui. Gostaria de me ver com o corpo de 20 e cabeça de 45. Mas, como não dá, quero chegar saudável aos 50. Essa é a minha preocupação.
O que mudou na cabeça da Xuxa de 20 e da Xuxa de 45?
Ah, muita coisa...
Quais erros você não repetiria?
Eu acreditei e confiei muito nas pessoas. Hoje, tenho meus dois pés atrás. Antes, se você me dissesse que gostava de mim, eu já confiava naquilo plenamente, o transformaria em uma pessoa próxima, depois em uma pessoa íntima. Ficaria apaixonada por você, feliz da vida por ter conquistado mais um amigo. Se pudesse voltar no tempo, não teria acreditado em tanta gente que trabalhava próximo a mim. Acreditei serem amigas por conviverem comigo diariamente. Falo demais e contava tudo para elas. A gente só ganha levando paulada. Poderia ter amadurecido melhor de outra forma. Chego aos 45 com um pouco de trauma. Se alguém se aproxima dizendo que me adora, eu agradeço e deixo ela lá, no canto dela, e fico aqui, no meu canto.
No início do semestre, marcaram uma data para o seu casamento.
É, era para o começo de setembro. Já até passou! (risos)
Não terá casamento, então?
As pessoas torcem muito para me ver casando na igreja. Mas vamos pensar bem: eu, uma senhora de 45 anos, com filha e tudo mais, entrando de branco numa igreja? Não sou contra quem tem esse sonho, mas não é meu caso. Deixo para as jovens que desejam isso. Nunca foi o que busquei. Se alguém que eu gosto muito pedisse isso, eu teria de fazer muito esforço para atender o pedido. Mas se a pessoa de quem gosto não faz questão, se para ela tanto faz, ninguém vai me ver fazendo isso.
E a pessoa de quem você gosta, o que diz de tudo isso? Para ele tanto faz?
A minha filha, que é a pessoa que mais amo, diz que gostaria de me ver feliz. É uma grande resposta. Por mais que os fãs questionem, não tenho por que fazer. Nada contra o casamento, mas a decisão é minha. As pessoas não precisam assinar um papel para provar que se amam.
Por JOÃO RAFAEL TORRES | Correio Braziliense/DC. 16 de novembro de 2008.